TROVA DE UM RIO TRISTE

 Pergunto ao rio que corre

porque está triste e infeliz

por muito que perguntemos

o rio nada nos diz

 

Ao percorrermos as margens

quer para cima, quer para baixo

pobre rio que anda triste

sempre e sempre, cabisbaixo

 

Rio que sofre em silêncio

sem fazer grande alarido

porque outros rios maiores

já fazem, muito ruído

 

Rio pequeno sem força

com caudal pouco profundo

Já pouca importância tem

para poder gritar ao Mundo

 

Outros rios com mais força

com muitos afluentes

juntaram as suas águas

são agora imponentes!

 

Pobre rio que é pequeno

e sem forças para lutar

olha triste para as margens

pois só lhe resta chorar…

 

Mário Margaride

05-2007

A INCERTEZA QUE INQUIETA

 

A incerteza

é como uma sombra inquieta

que paira sobre nós

subtil e traiçoeira

que sempre nos atormenta

Quem quase amou

não amou de facto

e o coração se perde em desalento

as oportunidades escapam pelos dedos

como folhas ao vento, sem lamento

A vida

essa dança entre o sim e o não

nos deixa em suspense

em busca do certo

mas o quase, ah...o quase

é o nosso tormento

o eco das escolhas

que não fizemos por medo

Talvez a virtude esteja no meio termo

mas preferimos o risco

a incerteza do voo

somos primavera inconstante

e verão ardente

como as saudades que nos marcam

quase sem dó

Então

que o amor queime

e a paixão enlouqueça

pois é melhor viver intensamente

do que apenas existir

Desconfiemos do destino

acreditemos em nós mesmos

e que o quase não nos impeça

de merecer e de sentir.

Mário Margaride

06-04-2024

NAQUELE PONTÃO

Naquele pontão

observo o horizonte longínquo

onde um dia deixaste o teu olhar

e te sentavas tranquilamente

a ver e ouvir, as ondas do mar

a beijarem suavemente a areia da praia

momentos inesquecíveis

que a minha memória guardou

Hoje

relembrando esses momentos

aqui estou eu olhando o mar

como se as ondas te trouxessem até mim

e pudéssemos de novo juntos

observar o horizonte longínquo

para de novo poder...te abraçar.

Mário Margaride

"QUANDO O AMOR DECIDE IR DE FÉRIAS"

 

O amor saiu de casa

e deixou bilhete no espelho

"fui arejar a alma

não sei quando volto, beijo"

 

Levou a mala cheia de promessas vencidas

e as meias que usava nas noites perdidas

disse que precisava de "um tempo pra pensar"

mas seguiu direto para férias sem pestanejar

 

Mandou-me um postal, dizendo:

“O amor precisa de espaço

não chores, é só uma fase

talvez um fracasso”

 

Assinou com caneta dourada e ironia

a mesma que usava pra mentir com maestria

 

E cá estou eu

na rotina a dois com a solidão

a dividir o sofá e um litro de desilusão

 

Enquanto o amor viaja sem data pra regressar

aprendi que saudade também sabe cozinhar

 

Mas se um dia voltar

com ar de quem nunca partiu

vai encontrar as malas à porta

e um aviso afixado

 

"Coração disponível

mas vacinado

aceita amor verdadeiro

não turista disfarçado."

 

Mário Margaride

NO SILÊNCIO DA NOITE

 

No silêncio da noite

no cansaço que o meu corpo transporta

deixo que o sono me absorva

e devore a minha mente

absorta no torpor das emoções.

 

Nas horas alucinantes da noite escura

onde o sono me engole lentamente

abro a janela dos sonhos

deixo a mente flutuar

no universo incontrolável

do desejo sonhado

onde quero voar

me deliciar

no silêncio da noite.

 

Mário Margaride

INSTANTES DE CHAMA

A paixão, esse fogo

não sabe esperar

explode, consome

e começa a acabar

 

Mas basta um silêncio

um gesto mal feito

para que o laço que ardia

se desfaça no peito

 

E a amizade, tão doce

tão rara canção

também pode esfumar-se

sem explicação

 

Não por maldade

talvez por cansaço

por rumos que mudam

por falta de espaço

 

Há laços que duram

que são rocha e raiz

mas há os que morrem…

sem final feliz

 

E mesmo assim

vale sempre tentar

pois no brilho breve

há algo a guardar

 

Cada afeto vivido

por mais que se vá

é chama que ardeu

e isso já bastará.

 

Mário Margaride

OUTONO DAS NOSSAS VIDAS

                                       

              Caminhamos juntos por trilhos dourados

onde o chão se cobre de sonhos antigos

teu olhar, mais quente que o sol cansado

faz do frio abrigo, dos ventos amigos

 

O mundo se cala, e tudo conspira

para que o teu abraço seja estação

e cada folha que o vento retira

é como um beijo em minha mão

 

Se o verão é chama, o outono é ternura

um amor maduro, sem pressa, sem dor

e quando descobre, com suave doçura

que o tempo também, suspira de amor.

 

Mário Margaride

HÁ UMA PONTE, HÁ UM RIO

Há uma ponte

há um rio

há um fio condutor

que nos leva à outra margem

à descoberta do amor

 

Nesta longa travessia

que nos leva à outra margem

o que nos espera é incerto

pode lá estar o oásis

ou simplesmente o deserto

 

Há uma ponte

há rio

há tristeza e alegria

fantasia e ilusões

mas também há euforia

sonhos e frustrações

 

Há uma ponte

há um rio

que nos leva à outra margem

onde andamos às cegas

nesta constante viagem.

 

Mário Margaride

TERTÚLIAS DE AMOR-2

Esta é a minha participação na "TERTÚLIA DE AMOR-2", da iniciativa da amiga Roselia Bezerra, do Blogue Amor Azul.

 NO ENCANTO DAS PALAVRAS

À sombra das velhas madrugadas

se acendem luzes no coração

tertúlias brotam em alvoradas

tecendo versos, mão com mão

Lá, onde o silêncio se faz canto

e o tempo aprende a suspirar

o amor se encontra em cada encanto

no doce ato de escutar

Palavras roçam como dedos

em cada frase, um arrepio

confissões ditas sem segredos

na taça cheia do desafio

Olhares cruzam como espadas

mas ferem só com emoção...

são almas, nuas e encantadas

dizendo “sim” com negação

Há alegria, riso e melodia

mas o que encanta é a presença

tertúlia é rito, é poesia

é o amor posto em sentença

E quando a noite se despede

deixando estrelas por lembrar

fica o calor que nunca cede...

de quem ousou se revelar.

Mário Margaride